Elegância do prédio refletida no móvel

admin

Arquitetura de excelência merece projeto de interiores igualmente caprichado, com os móveis no nível da proposta da estrutura, gerando o mesmo valor percebido. Imaginando os apartamentos inspirados na arquitetura do Parreiras, surgem nomes de designers que correspondem à elegância e ao requinte dos detalhes e materiais do empreendimento.

Rejane Carvalho Leite trabalha há 22 anos com design de produto. A profissional tem formação de Arquitetura no Brasil e de Design na Itália, na meca do design, Milão. Já expôs sete vezes na Milan Design Week, sempre com criações que trazem sua forte carga de precisão arquitetônica para as formas e funções do design. A mais recente mostra milanesa, Design Transforma, terá duas peças suas criadas para a marca Florense: o mancebo Lurch – toque lúdico no nome, referência ao mordomo da Família Addams – e o gaveteiro Cava.

Ambos foram revisitados para a mostra Design Transforma: são feitos de uma madeira de alta qualidade chamada louro-gaúcho (também conhecida como louro-pardo), e o Cava ainda exibe revestimento em palha de buriti na parte interna das gavetas, um toque de brasilidade. O gaveteiro tem versão office e home, esta com a delimitação de compartimentos para guardar joias. O mancebo Lurch, com cabides de madeira maciça, também oferece mais de uma versão: com ou sem espelho e gavetas. Para a entrada da casa, dormitório ou office.

Rejane divide-se entre visitas a fábricas e duas lojas: em Porto Alegre, Rejane conta com espaço próprio e, em São Paulo, com a loja da Plataforma4, coletivo do qual faz parte junto com as designers Camila Fix, Amélia Tarozzo e Flávia Pagotti Silva, todas com carreira individual consolidada, com a participação em exposições internacionais e produtos premiados no Brasil e no Exterior. Claro que os pontos ligados às marcas que produzem seus móveis e acessórios também são muito importantes para tornar conhecidas e fazer chegar aos usuários suas criações.

No começo dos anos 2000, a arquiteta Rejane Carvalho Leite apresentou em uma sala de jantar da CasaCor Rio Grande do Sul um ambiente totalmente concebido com a sua produção como designer. Os protótipos feitos pelas indústrias fizeram sucesso. Trouxe luminárias da Itália para compor o espaço bem autoral. A partir dessa época, também entraram no seu portfólio os metais sanitários: em parceria com o amigo italiano Leonardo Bua, assinou a linha Tonino para a Meber.

Considerada a peça mais difícil de ser projetada, a cadeira é o móvel pelo qual a designer começou a trabalhar e a criação pela qual até hoje é reconhecida. A segunda cadeira de sua vida de designer, a leve Foz (de Foz do Iguaçu), produzida pela indústria moveleira Schuster, continua no seu portfólio, com palha natural.

– Quando faço o desenho (à mão e depois vou modelando no 3D) também quero que a fábrica seja impecável. Se precisar, faz cinco, seis protótipos. Com o tempo, já sei as combinações de ângulos, de alturas. Mas, às vezes, os detalhes vêm no processo após o conceito, quando estabelecidas as diretrizes técnicas construtivas – fala o lado arquiteta da designer.

Rejane cria no seu estúdio cadeiras, mesas, luminárias, metais sanitários, espelhos, tapetes e mais produtos com a Plataforma4 – os mais recentes, pratos de pedra. Reunindo todas as criações com a sua participação, é possível compor boa parte de uma casa.

– Um novo projeto é sempre um desafio, e mais ainda se não é com o material que trabalhamos sempre, como a madeira – diz a designer, sobre o material que faz parte de suas criações desde sempre.

Se formos buscar as origens do trabalho de Rejane como designer, chegaremos até a época em que fazia projetos de arquitetura e, como ocorre em alguns casos, acabou criando mobiliário para compor os espaços. Hoje vive do design.

Quando entra em um local e vê muitos produtos seus, Rejane conta que se sente “em casa, realizada e, depois, agraciada”. A designer imagina que, ao fazer com que as pessoas gostem e se conectem às suas criações, faz com que elas façam parte da vida deles: “produtos entram no universo das pessoas”. Para chegar a eles, Rejane se alimenta de fontes diversas como arquitetura, arte, gastronomia e o cotidiano, mas “observar as pessoas também é uma fonte muito rica de inspiração, como usam o espaço e vivem em suas casas”.

A designer resume de qual repertório se abastece, dizendo: “As interpretações do que vejo e sinto fazem parte desse grande observatório que é o planeta.” E, sobre a Terra, ressalta que atualmente é inaceitável não pensar na sustentabilidade ao criar um projeto. Do lado das empresas, as marcas necessitam se mostrar como sustentáveis e encerra considerando que “não cuidar disso leva a catástrofes”.

Com essa consciência ambiental, busca trabalhar com empresas alinhadas ao seu pensamento. No caso das peças com a marca Du, desde a matéria prima empregada deixa claro o cuidado com o ambiente: a empresa desenvolveu uma maneira de tratar a madeira da árvore Uva-do-Japão, uma espécie que não é natural da Serra Gaúcha. O seu uso ajuda a manter o equilíbrio ambiental da região. Além de identidade, os produtos assinados pela designer com a fábrica  ainda carregam a beleza de lidar com respeito com o Planeta. Mas foi preciso investir, arriscar.

–  Correr risco é estar vivo. Só se consegue grandes resultados em determinados produtos se arriscando. E é preciso se permitir errar; o erro nos leva a pensar e visualizar coisas diferentes. Isso vale para qualquer atividade – conclui a designer e empreendedora Rejane Carvalho Leite, sentada em uma poltrona Moliçosa.

× Contato