Conexão verde 

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Arquitetura está dentro e fora de cada casa ou prédio. As estruturas horizontais e verticais continuam no seu entorno de forma mais fluida, pontual, mas estão lá. Um projeto de paisagismo se estende muito além das espécies vegetais, e as especificações do arquiteto paisagista determinam o conforto e a funcionalidade de um espaço externo, tão valorizado e conscientizado após o impacto do isolamento durante a pandemia da Covid-19. O planejamento do jardim envolve questões técnicas que, bem solucionadas, ficam invisíveis, mas são fundamentais para o perfeito funcionamento e a harmonia da construção.

A arquiteta paisagista Susana Nedel ressalta o diálogo existente entre o que está dentro com as estruturas e a paisagem fora do prédio. E, claro, isso requer sintonia entre os profissionais envolvidos no empreendimento para gerar harmonia.

– Sempre pego o projeto arquitetônico e trato que o exterior seja uma continuidade do interior – diz a arquiteta paisagista.

Susana exemplifica até onde vai essa conexão in e outdoor: reitera que é preciso avaliar a função do ambiente interno que se conecta com o exterior para identificar se não há incompatibilidade de funções. Na prática, vale dizer que, se houver um espaço dedicado a alguma atividade de adultos dentro do espaço de uso comum do condomínio ou da família, em uma residência, a área contígua do lado de fora não poderá ser destinada a um playground, por exemplo.

Ao lado da natureza

O trabalho de Susana lida com vários aspectos da natureza. A disposição e a profundidade da piscina são questões fundamentais, que devem ser administradas principalmente conforme a insolação. Falando em sol, um recanto para o bronzeado tem que entrar no projeto da arquiteta para condomínios. Susana cria ambientes e piscinas, mas também dispõe muros, pergolados, soluciona drenagens. É importante, destaca, a solução de desníveis e o acesso bem planejado às garagens.

– Atuo muito com arquitetura, solução para declividade é o meu dia a dia porque, se não for bem feita, pode vir chuva e arrastar tudo ou ser difícil de manter – alerta.

Todo o trabalho da arquiteta paisagista nasce a partir da “linha mestra da arquitetura”, que dá a linguagem para começar a criação do cenário externo. O conforto e a beleza sempre vêm desse cuidado. No seu paisagismo, áreas de estar ao sol e tendas em lugares mais sombreados formam recantos avistados do salão de festas, como é o caso do Parreiras, que a profissional usa como exemplo para discorrer sobre as suas propostas de vida ao ar livre.

Uma extensão para fazer um ambiente de refeição na rua, com a presença da beleza de uma jabuticabeira, deram uma proposta funcional e nova para o espaço. A sua previsão de uso mais intensivo aos sábados e domingos foi a causa da não preocupação de Susana com a vizinhança, a circulação de serviço, usada para manutenção durante a semana. Foi criado então esse ambiente para um almoço ou jantar sob o céu, refúgio com banco, balanço e estar com playground e piscina, mais ligada ao setor fitness. No quesito funcionalidade, a vegetação acompanha os cuidados: no braço do Parreiras que tem hidromassagem e piscina infantil, há duas árvores jasmim-manga para proteger as crianças do sol. Suas folhas graúdas facilitam a manutenção, assim como a das palmeiras, também indicadas para o entorno de piscinas

– Uso também cerca-viva, paredes com trepadeiras, costelas-de-adão que sobem pelo muro, alternando arbustos que também têm perfume. Trabalho muito com plantas que sejam perenes, não de estação, e deem sensação de bem-estar. Isso é válido tanto para condomínio quanto para casa – diz Susana, que ensina a observar a área do jardim: se tiver grande umidade, o ideal é escolher árvores de folhas caducas (que perdem as folhas) porque no inverno tem que entrar sol.

Em outro plano, a área sobre laje acolhe frutíferas, chás e temperos comunitários. Ou seja, “traduz cara de pátio de casa”. Susana lembra que a vista do alto do jardim do condomínio também deve ser bonita. E a vegetação especificada serve tanto para fornecer conforto térmico quanto para proporcionar privacidade.

No quesito mobiliário, Susana ressalta estar se “esforçando para usar menos madeira”. Além da temperatura das superfícies no verão, seu uso mais contido é bem-vindo para “evitar corte de árvores”. A combinação de alumínio com corda náutica, por outro lado, é considerada muito prática pela arquiteta paisagista, inclusive pela possibilidade de esses móveis serem limpos com lava-jato.

Susana ressalta o esforço para usar revestimentos mais ecológicos, cimentícios, concreto estampado, mas diz que ainda não há condições de se desvincular da pedra. A profissional chama a atenção para a importância da infiltração pluvial, que justifica até criar jardins com encaixes de pedras, itens que encarecem o projeto, mas valem o investimento. Susana chega a comentar até a importância das calçadas que, a seu ver, devem ter 1,5m, “mais humanas”.

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